sábado, 27 de outubro de 2012

Cabe a nós também fazer se tornar pública a sabedoria de nossos heróis - como foi reconhecido, já muito tarde, Sepé Tiaraju

Suposta carta escrita pelo Cacique Sepé Tiaraju aos reis de Portugal e Espanha antes do massacre que quase dizimou o povo guarani em 1753 

Até que ponto uma simples carta poderia ter evitado uma guerra; e cheguei a conclusão de que esta carta poderia ter evitado muitas guerras, desde que... Leia e saiba porque:

CARTA DE SEPÉ TIARAJU AOS REIS DE PORTUGAL E ESPANHA
(Que se tivesse chegado ao seu destino - e, posteriormente, tornada pública ao mundo - poderia não só ter evitado o massacre dos guaranis na época, como mudado o curso das guerras desde então. Palavras podem evitar guerras; desde que tenham conteúdo e cheguem ao seu destino. Aquele massacre não foi evitado; mas, quem sabe ainda haja tempo para que as palavras, sábias e emocionantes, do índio guerreiro sul-americano possam ser ouvidas pelo mundo, e ainda possam evitar mais guerras estúpidas...)

Reza uma lenda que o cacique Sepé Tiaraju teria escrito uma carta aos reis de Portugal e Espanha para evitar o conflito que se seguiu - e praticamente dizimou as tribos guaranis que viviam nos Sete Povos das Missões. Porém esta carta nunca chegou ao seu destino; pois o índio que teria a missão de entregar tal carta aos jesuítas, que estavam partindo para a Europa, teria sido morto por uma guarnição do exército espanhol...

Só depois da tragédia ocorrida é que a carta chegou nas mãos de um oficial espanhol que a leu, chorou, e depois se matou - de vergonha e de remorso pelo que fizera...

O conteúdo desta carta nunca foi oficialmente reconhecido; mas relatos de soldados que a leram, antes do oficial a ter destruído, contam trechos de tal carta que dizia mais ou menos assim:

Do cacique guarani Joseph Tyaraju (Sepé Tiaraju) - dos Sete Povos das Missões - 1753
Para os reis de Portugal e Espanha - donos do mundo, senhores da guerra e da destruição.

Venho, em nome de meu povo, lhes dizer que ESTA TERRA TEM DONO; sempre teve e sempre terá. Os donos da terra não são, e nunca serão, os conquistadores - que vêm de longe apenas para mostrar sua força e sua indiferença com os povos que vivem da terra. Os verdadeiros donos desta terra são, e sempre serão, aqueles que cuidam, trabalham, plantam e colhem o que a terra dá; não são, e nunca serão, aquele que destroem, com sua força, e impõe sua vontade aos mais fracos.

Sou um índio de pouco conhecimento, mas aprendi, com meus antepassados, que não existe ser mais vil e covarde do que aquele que usa sua força para oprimir os mais fracos; para roubar dos que trabalham e impor sua vontade; para destruir em nome de seu poder...

Nosso povo vive nesta terra desde o começo do mundo. Tupã, o nosso deus, nos deu a terra para que possamos viver dela sem precisar matar nossos irmãos. Temos terra suficiente para o nosso povo. Mas parece que para vocês, donos do mundo, a terra nunca é suficiente. Vocês vivem para tomar a terra dos outros e por isso são os donos do mundo, senhores da guerra e da destruição. Vocês devem achar grande coisa ter mais do que precisam. Mas, para a sabedoria e ignorância de nosso povo, vocês não passam de tolos, que nunca estão satisfeitos com o que têm...

Os irmãos jesuítas nos ensinaram muitas coisas; e também aprenderam com o nosso povo. Aprenderam a compartilhar a terra; dividir o trabalho e os frutos da terra. Nos ensinaram que existe um deus maior do que o nosso e nos ensinaram suas orações. Mas nós sabemos que o nosso deus é o mesmo que criou a terra onde vivemos; e que não existe deus maior do que o deus da terra. Agora eles falam que o deus do homem branco quer que nós entreguemos nossa terra. A nossa terra sagrada! A terra que nosso deus nos deu! Este deus, de que eles falam, não pode ser o mesmo que o nosso. Somente um deus injusto poderia tirar a terra de quem dela precisa para dar a quem dela nunca precisou. E um deus assim só pode ter sido criado por quem preza a ganância e despreza a vida. Nosso deus também nos ensinou a não aceitar injustiças e, se for preciso, morrer lutando contra os invasores que querem nos destruir. Nosso deus não nos deixou nada escrito, como o de vocês - até porque nós só aprendemos a ler com os jesuítas - mas nos deixou uma mensagem bem clara em nossos corações: o que dói no meu irmão, dói em mim também; e todo homem é meu irmão, com exceção do meu inimigo; e só é meu inimigo aquele que quer me prejudicar ou prejudicar os meus irmãos. Nosso deus é simples assim, e não precisa de 'tradutores' para nos dizer o que é certo e o que é errado.

Como vocês podem ver, nestas poucas linhas que lhes escrevo, sou um homem ignorante para vocês; sou apenas um selvagem - como vocês nos chamam - mas nosso povo vivia em paz com a nossa Mãe-Terra e com nossos irmãos jesuítas até que vocês decidiram que devemos abandonar o nosso solo sagrado. Isso nos parece um insulto, mas para vocês isso deve ser normal. Roubar e destruir, para vocês, deve ser alguma prova de muita importância. Porque senão vocês não mandariam seus irmãos lutarem e morrerem apenas para a vossa grandeza...

Entre o meu povo, o chefe-cacique tem o dever de reunir forças para defender os mais fracos; para defender nossas casas, mulheres e crianças. Mas parece que para vocês, é normal que o chefe-rei reuna suas forças para invadir terras alheias; para saquear e roubar dos povos mais fracos. Para o nosso povo ignorante, isso seria motivo de vergonha e nunca de orgulho. Para nós, não existe nenhum orgulho ou glória em matar mulheres e crianças, ou dizimar um povo pacífico e indefeso. Mas, somos apenas um povo selvagem e não civilizado como vocês; por isso não podemos entender sua ganância.

Para finalizar, lhes digo que não temos interesse em pertencer a nenhum reino ou império - nem de Portugal nem de Espanha - portanto se quiserem dizer que esta terra pertence a estes ou a aqueles, para nós tanto faz. Mas se vocês quiserem nos tirar de nossa terra e expulsar nossas famílias de nossas casas, não teremos outra opção senão lutar até a morte. É isso que um guerreiro honrado faz: luta para defender os mais fracos e o que é seu; nunca para oprimir ou roubar o que não é seu - como seus guerreiros fazem...

Se quiserem encher os livros de vocês com mais conquistas e mortes, podem vir com suas armas de destruição, que estaremos esperando. Mas se a justiça e a vida de vossos irmãos tiver algum valor para vocês, é melhor que encontrem uma forma mais justa de negociar terras, para aumentar seus reinos e impérios; sem que para isso tenham que sacrificar vidas e manchar de sangue as páginas de vossos livros.

Respeitosamente.

Joseph Tyaraju - Cacique Guarani e Alferes Real do Cabildo de São Miguel

As perguntas que ficam são:
Será que o genocídio indígena teria ocorrido se tal carta chegasse aos reis de Portugal e Espanha?
Será que os genocídios indígenas na América do Norte teriam ocorrido se tal carta se tornasse pública para o mundo?
Será que Hitler teria a coragem de entrar para a história como o maior invasor que foi?
Será que algum rei, imperador, presidente, ou qualquer chefe de Estado, ou de exército, teria coragem de tomar as terras de outros povos depois de conhecer a filosofia do cacique guarani?

Esta carta, como qualquer filosofia, só tem poder se for amplamente divulgada - desde os povos mais simples (como eram os guaranis e sua cultura) até os mais altos escalões de governo.

Esta carta, mesmo que sem confirmação histórica deveria fazer parte dos livros de história e filosofia (se possível de documentários e filmes) e não continuar esquecia e desconhecida da maioria.

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